terça-feira, 5 de outubro de 2021

Especialistas: perto de dois dígitos, inflação é desafio ao crescimento

  •                    Inflação está prestes a bater a marca de dois dígitos em 12 meses
  • CECÍLIA BASTOS/USP IMAGENS


Economistas dizem que incentivos a empresas resultam em mais postos de trabalho, o que pode ajudar país a reverter atual cenário A economia nacional vive um dos piores momentos da história recente do país, o que tem impactado diretamente na qualidade de vida dos brasileiros, que passaram a lidar com alimentação, gás de cozinha, combustíveis e energia cada vez mais caros. A causa disso é uma das inflações mais altas do século, que está prestes a voltar a bater a marca de dois dígitos em 12 meses após quase seis anos.

Contudo, ao contrário do que aconteceu em fevereiro de 2016, quando o índice medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 10,36%, desta vez a inflação não é causada por uma política de controle de preços administrados, bem como não é impulsionada pelo consumo, mas sim pela alta nos custos de produção, que encareceu os preços de commodities, matérias-primas e fontes de energia, puxada pela desvalorização do real.



O último dado referente à inflação medido pelo IBGE é de agosto, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses ficou em 9,68% (veja o gráfico abaixo). Na próxima semana, a instituição deve divulgar os números referentes a setembro, e a tendência é de que indicador rompa a marca dos 10%, visto que a prévia da inflação medida pela entidade, o IPCA-15, acumula uma alta de 10,05% em 12 meses.


O reflexo desse cenário é o encarecimento de itens básicos para a sobrevivência da maior parte das famílias do país, como arroz (alta de 32,68%), carnes (alta de 30,77%), café (alta de 22,54%), botijão de gás (alta de 31,7%), energia elétrica (alta de 21,08%) e gasolina (alta de 39,09%).


Paralelo a esse processo de carestia, os brasileiros viram a renda diminuir. De acordo com o IBGE, o rendimento médio real no trimestre compreendido entre maio e julho deste ano recuou 2,9% em relação ao intervalo entre fevereiro e abril, bem como caiu quase 9% na comparação com o mesmo trimestre de 2020. Se no ano passado esse rendimento era de R$ 2.750, agora é de R$ 2.508.



Saídas

Por mais que essa situação também aconteça em outros países, especialistas acreditam que a realidade do Brasil é mais preocupante devido ao comportamento das lideranças políticas do país, que tardam em discutir reformas econômicas que melhorem o ambiente de negócios, o que poderia contribuir para a criação de mais postos de trabalho, impedir a desvalorização do real perante o dólar e atrair mais investimentos estrangeiros. Dessa forma, seria possível reverter a curva inflacionária.


O professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Alberto Ajzental sugere que, para contornar o atual momento do país, o governo invista em medidas de incentivo às empresas, sobretudo para que elas possam contratar mais.


“O certo, antes de mais nada, é dar dinheiro, condições e crédito a quem quer produzir; afinal, essa pessoa vai ter produto para ofertar no mercado. Quem produz gera emprego. Quem está empregado é quem consome. Isso faz a roda da economia girar. Pelo da oferta, é mais viável fazer com que a economia tenha um crescimento sustentável”, opina.



Para ele, a decisão do Banco Central de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, na esperança de conter a inflação, é uma decisão equivocada. O indicador vem de cinco altas consecutivas, e atualmente está em 6,25%. Segundo Ajzental, como a inflação não é provocada pelo consumo, essa estratégia pode não ser tão eficiente.


“Não é o aumento da demanda que está gerando o aumento dos preços. O povo brasileiro não tem dinheiro para comprar as coisas. No atual cenário, subir a taxa de juros vai encarecer a produção. E com a crise que estamos vivendo, precisamos de dinheiro barato para produzir, e não o contrário. Precisamos de ofertas de crédito barato para gerar emprego”, afirma.


Novos investimentos

O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli também não concorda com os reajustes da Selic, e alerta que “na medida em que há um aumento gradativo continuado da Selic, há o encarecimento do crédito, o desestímulo aos investimentos duradouros, a tendência de retração do consumo e assim por diante”.


Piscitelli acredita que melhorar as condições para quem produz é a alternativa mais adequada, e defende uma revisão do teto de gastos, emenda constitucional que limita o aumento de despesas pela inflação do ano anterior, para que seja possível fazer novos empreendimentos econômicos.

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“O país não pode frear o próprio crescimento. Se não liberar recursos para investimento, não vou ter chance de liberar uma renda adicional. O Brasil precisa voltar a crescer, inclusive para melhorar a arrecadação. O fortalecimento da atividade econômica deve constituir o potencial para geração de mais receitas”, analisa.


“Não significa abrir o cofre e largar dinheiro pela janela, mas não adianta estar comprimindo despesas que são essenciais com 40 milhões de pessoas na miséria. Até onde a gente vai ignorar o quadro que nos circunda? Precisamos realizar novos investimentos, expandir a infraestrutura, gerar empregos e, com isso, gerar renda”, completa.



Por: R7, em Brasília

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