A reunião da Executiva Nacional do PSDB nesta quarta-feira, dia 8, não chegou a uma decisão favorável ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Convocado pelo presidente nacional do partido, Bruno Araújo, o encontro virtual debateu uma reação aos discursos antidemocráticos de Bolsonaro em atos do 7 de Setembro, mas não houve unidade.
A direção do partido, que agora se diz de oposição, pressiona para tentar mudar a posição de tucanos apoiadores do governo no Congresso. Segundo nota do PSDB Nacional, a decisão em passar a integrar a oposição foi unânime.
“O partido repudia as atitudes antidemocráticas, truculentas e irresponsáveis adotadas pelo presidente da República em manifestações pelo Dia da Independência”, diz a nota. “O PSDB se alinha a todas as forças da sociedade brasileira que têm na democracia, na defesa das instituições e no respeito à liberdade o seu maior compromisso.”
Nos bastidores, integrantes da direção tucana reconheceram que o discurso do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), em defesa de uma “pacificação” sem dar margem ao impeachment, influenciou o debate no PSDB. Para um dirigente partidário ouvido reservadamente, a fala calculada de Lira, transmitida na TV Câmara, “jogou um balde de água fria” na expectativa de quem apoia o afastamento de Bolsonaro.
A avaliação na Câmara é de que, sem o apoio formal de partidos de centro, o pedido de impeachment não tem chance de prosperar. Hoje, as siglas de oposição reúnem 132 deputados. Mesmo que haja uma adesão de todas as legendas consideradas independentes e não haja qualquer dissidência nas bancadas, o número não chegaria aos 342 votos necessários para que a cassação seja aprovada.
Mais cedo, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, disse que Bolsonaro cometeu atos “ilícitos” e “crime de responsabilidade” ao anunciar que vai passar a desconsiderar decisões do ministro da Corte Alexandre de Moraes. Mas a acusação de Fux, acompanhada de uma cobrança sobre o Congresso, foi ignorada.
Com divergências na bancada tucana na Câmara, explicitada em episódios recentes como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, a Executiva optou por cobrar um posicionamento e debate entre os parlamentares, sejam deputados ou senadores. No mês passado, o partido orientou a bancada a defender a urna eletrônica e não apoiar a retomada do voto em cédulas de papel e contagem manual, como defende Bolsonaro, mas o resultado foi outro: 14 tucanos foram favoráveis e 12 contrários; 5 não votaram, e o ex-presidenciável Aécio Neves (MG) se absteve.
A reunião ocorreu à tarde, de modo virtual, com cerca de 30 integrantes da Executiva. Segundo tucanos presentes, ninguém pediu a palavra para defender Bolsonaro ou o governo na reunião virtual. Em vez disso, todos repudiaram os atos de Bolsonaro. Porém, reconheceram as divisões internas que impedem posicionamentos futuros mais enfáticos.
A direção do partido submeteu uma nota à avaliação dos presentes, em tom de “repúdio”. O posicionamento da direção tenta sensibilizar integrantes do PSDB na Câmara e no Senado - a avaliação corrente é de que sem unidade nas bancadas não dá para ir além na defesa do impeachment. A expectativa é gerar um debate interno entre deputados e senadores tucanos, além de estimular a discussão semelhante nos demais partidos.
Um dirigente tucano relatou que as ambiguidades internas e o esgarçamento das relações era tal que foi preciso deixar claro que o partido é oposição. Esse parlamentar considera que "a causa não está perdida" e que foi um "avanço, embora pequeno", que o partido tenha se declarado contrário ao governo Bolsonaro. Isso, no entendimento da direção nacional, tende a causar constrangimento em parlamentares tucanos fiéis às benesses do Planalto.
Um parlamentar do PSDB disse ter ouvido na reunião um recado com endereço certo e que tem como destino deputados tucanos bolsonaristas e a ala ligado a Aécio Neves (PSDB-MG). Foi dito que ter posições claras é o mais importante, "ainda que isso custe perder alguns".
Durante as discussões sobre a nota, houve uma tentativa de incluir o impeachment no texto, citando o processo como uma forma de "impedir Bolsonaro de agravar a crise". A bancada da Câmara barrou. Entre os deputados, há maior adesão ao governismo e identificação com o Centrão, o que levou deputados a pedirem que referência ao impeachment fosse retirada para conversarem por mais uma semana na bancada.
Aécio Neves disse, por meio de sua assessoria, que considerou "correta" a decisão da Executiva Nacional.
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