Tóquio-2020 vê cerco aumentar por tomada de decisão, enquanto pandemia já abalou ciclo e ameaça com mais prejuízos.
Com a mudança de status do novo coronavírus de epidemia para pandemia- O Comitê Olímpico Internacional (COI) admitiu, pela primeira vez de forma pública, a possibilidade de adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, no Japão, entre os meses de julho e setembro. Até então adotando tom confiante na realização dos eventos em suas datas originais, Thomas Bach, presidente do COI, disse que as recomendações da OMS serão levadas em conta na decisão final.
“Temos que reagir de uma forma muito flexível”, disse, em entrevista à emissora alemã "ARD", reconhecendo que a pandemia pode trazer sérios prejuízos aos Jogos. Isso, inclusive, já acontece. São diversos os eventos classificatórios adiados, e Bach frisou que os atletas dos países mais afetados merecem um sistema de qualificação igualitário.
Preferencialmente, a decisão sobre o adiamento deve estar em conformidade com a Carta Olímpica, documento que rege a realização dos Jogos. Nela, consta a obrigatoriedade de a edição ser realizada em seu ano de origem. No caso, os Jogos de Tóquio teriam de acontecer até o final de 2020. Mas isso vai depender dos fatos, podendo haver assembleias extraordinárias.
No mesmo dia em que Bach concedeu entrevista, quinta (12), a governadora de Tóquio Yuriko Koike disse o cancelamento dos Jogos era algo “impensável”. No mesmo dia, a chama olímpica fora acesa em Olímpia, na Grécia, com a presença apenas de autoridades e alguns jornalistas. A tocha percorreria 31 cidades gregas em revezamento até o dia 19, quando seria entregue ao país-sede. Mas a presença não autorizada de público em alguns locais levou o Comitê Olímpico da Grécia a cancelar esse revezamento.
Mesmo que seja adiada para o final do ano, a Olimpíada corre o risco de ter “prejuízo”. Edição mais rentável da história, superando com folga a casa dos US$ 3 bilhões em patrocínios, a Tóquio-2020 pode não atrair o mesmo número de visitantes estipulado inicialmente, o que geraria diminuição na expectativa de arrecadação local. “Seria limitado olhar só o viés dos ingressos, porque tem ainda as compras nos locais de competição, alimentação, turismo”, destaca o especialista em gestão e marketing esportivo, Amir Somoggi, que vê na prorrogação da data a melhor opção. “Seria o mais inteligente. O problema é que mexe com todo o calendário mundial. O atleta passou anos treinando e se preparando para ter aqueles dias de auge, estar perfeito”, completa ele.
Os atletas acompanham o momento complicado da pandemia sem saber quais serão os próximos passos. No caso dos brasileiros, eles recebem comunicados dos comitês Olímpico (COB) e Paralímpico (CPB) e das suas respectivas confederações. Em nota, essas entidades disseram seguir as diretrizes do COI. A pernambucana Etiene Medeiros, que treina no Sesi/SP, tinha duas competições nas próximas semanas, na Argentina e na Holanda. Ambas foram canceladas.
“É um cenário novo para todo mundo. A gente vê as notícias diárias, minha médica também me passa tudo. Temos de pensar primeiro na saúde. Só podemos nos planejar diante da certeza, então tá todo mundo flutuando. Não podemos pensar em prejuízo (na preparação) porque nesse momento estão todos na mesma situação. Tenho certeza que o COI vai olhar para todos”, diz a atleta, que descarta outra possibilidade ventilada nos últimos dias, a de realização dos Jogos com portões fechados. “Não penso nisso, porque mexe com muitas marcas, com a economia global. Imagino o adiamento, mas não cabe a mim.” O treinador de natação Alexandre Pussieldi, que deve trabalhar na cobertura olímpica, corrobora. “Os Jogos têm uma conotação esportiva, mas também são uma grande festa. Qualquer coisa nesse sentido (portões fechados) acho que deixaria o evento sem todo o potencial. Uma transferência de data me parece a possibilidade mais forte. Os Jogos em julho podem estar em boas condições (estrutura e coronavírus controlado), mas o que se passa até lá não (seletivas). Fora que a Olimpíada receberá pessoas de 208 países, e o controle do vírus no Japão ou na Ásia não será o suficiente”, pontua.
Informações Folha PE
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